A pandemia do novo coronavírus afetou diversos aspectos de nossas vidas — mas um dos mais evidentes, sem dúvidas, é a forma como trabalhamos. Se antes já caminhávamos para um mundo mais digital, com o uso de ferramentas na nuvem e atividades realizadas pela internet, o avanço da Covid-19 certamente acelerou o processo.  Isso se refletiu também no mercado imobiliário.

A necessidade de isolamento social como forma de combate ao vírus forçou empresas de todo mundo a enviarem os seus times para casa e adotarem um regime de trabalho remoto. Segundo dados do Global Workplace Analytics, o trabalho remoto cresceu 173% desde 2005. A empresa de consultoria ainda estima que, atualmente, 56% das posições de trabalho podem ser realizadas remotamente. 

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Home office: as mudanças para o mercado imobiliário

A expectativa é de que, mesmo após o fim da pandemia, a adoção do modelo de home office aumente em relação aos números de antes do coronavírus, uma vez que isso traz benefícios tanto para as empresas quanto para os funcionários.  

Se por um lado a empresa economiza com os custos de manter um escritório — muitas vezes em centros urbanos onde o valor do m² é alto —, por outro o empregado ganha qualidade de vida ao não precisar se deslocar todos os dias para o trabalho.  

Como é de se imaginar, as mudanças no local de trabalho terão forte impacto no setor imobiliário. Se antes imóveis no entorno ou dentro dos grandes centros eram valorizados por deixarem as pessoas mais próximas de onde trabalham, o home office pode levar a uma migração para subúrbios ou bairros mais afastados.  

Os impactos da pandemia do coronavírus no mercado imobiliário já começam a ser sentidos. É o que afirma Odair Senra, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de São de Paulo (Sinduscon-SP). De acordo com ele, “a demanda por casas em condomínios fechados em áreas próximas às capitais de estados já é um fato, ao menos no Rio de Janeiro e em São Paulo”.   

A necessidade de procurar residências próximas aos centros comerciais diminui, dando mais liberdade ao consumidor de buscar imóveis em áreas periféricas que ofereçam qualidade de vida.   

“O problema antes da pandemia era o tempo gasto no transporte entre as áreas centrais e os bairros afastados. Com o teletrabalho, isso acabou”, explica o presidente do Sinduscon-SP.  

Tendências que impactarão o mercado imobiliário 

Mas a mudança não será apenas geográfica. Com mais pessoas trabalhando de casa, espera-se que o formato dos imóveis residenciais mude para se adequar a essa nova realidade.   

O mercado imobiliário já planeja oferecer residências com home office. Para tanto, o setor deverá investir em projetos bem arquitetados, com inovações construtivas e boa gestão, de modo a projetar unidades residenciais que sejam mais versáteis e contenham um espaço adequado ao trabalho remoto.  

Segundo Senra, apesar de os impactos já serem sentidos, pode demorar até que a mudança no mercado imobiliário esteja completa.   

“Será preciso que esses bairros e áreas sejam muito bem servidos de infraestrutura e serviços e que haja aumento da segurança pública — algo difícil de acontecer no curto prazo —, para que um expressivo número de famílias escolha morar neles”, diz.  

A busca por imóveis novos de alto padrão poderá levar à oferta de unidades que ofereçam mais do que o desempenho acústico, lumínico e térmico mínimo exigido pela NBR 15575 — Norma de Desempenho de Edificações. Espera-se, portanto, que o conforto ganhe destaque, com infraestruturas de instalações prediais que permitam melhor acesso às novas tecnologias.   

Mas não são só os imóveis de alto padrão que sofrerão mudanças. ”Soluções criativas certamente não faltarão para ofertar unidades de médio padrão com espaços para o trabalho remoto”, comenta Senra. Afinal, ficar mais tempo em casa significa maior consumo de água e energia, outro aspecto que construções novas deverão resolver com soluções de conservação e reuso.   

O presidente do Sinduscon-SP acredita que este não será o fim dos imóveis comerciais nos grandes centros. De acordo com ele, “as empresas não poderão abrir mão de uma boa sede representativa”.   

Com espaços amplos, escritórios continuarão sendo indispensáveis para a formação de novos profissionais, atividade que, inevitavelmente, exige interação pessoal.  

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