O terceiro dia do Concrete Show Xperience, nesta quinta-feira (28), abriu espaço para a participação do economista-chefe do BV, Roberto Padovani que, ao lado do diretor de comunicação da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), Hugo Rodrigues, compartilhou as suas impressões sobre as perspectivas e os obstáculos para a retomada econômica em 2022.
“Como sabemos, o setor da construção civil é extremamente sensível às oscilações econômicas, por isso este painel é tão importante, pois pode esclarecer — e quem sabe antecipar — o que está por vir”, disse Rodrigues.
Sobre o atual cenário econômico do país, Padovani afirmou que há dois pontos que o deixam “tranquilo”. “É raro pensar em recessão local quando o mundo está e continuará crescendo. Para termos uma ideia, os Estados Unidos devem crescer 5%, quando na média cresce 2,5%. Existirá uma readequação no comportamento do crescimento, mas não prevemos recessão. O segundo ponto é não enxergarmos nenhum risco político grave, de ruptura de fato. O que nos preocupa — e este é o ponto central — é a volatilidade que teremos em 2022”.
Segundo ele, o ano que vem trará um cenário internacional de alta de juros e menos liquidez e, localmente, espera-se um ambiente eleitoral complicado, de difícil previsão. Para Padovani, as eleições serão altamente competitivas, com discursos de um lado e de outro que podem assustar o mercado e trazer intranquilidade. “Além disso, o próximo presidente terá pouca força política, já que será uma eleição muito disputada e quem ganhar, será por uma margem estreita. Não vejo um cenário de ruptura econômica, mas será de grande volatilidade. Será um ano para cuidar do caixa e agir com prudência. E obviamente a construção civil, que é muito sensível às taxas de juros, vai sentir um pouco, mas é temporário”, avalia.
Turbulência passageira
Rodrigues lembrou que a atividade do setor da construção civil perdeu força no último trimestre, com a elevação da taxa Selic. Para Padovani, o que acontece é uma acomodação do ritmo de crescimento do mercado. “Vemos um realinhamento forte da taxa de juros. Prevemos uma taxa de 11%, mas, à medida que as dificuldades forem superadas, os juros devem recuar. Por isso acredito que teremos um ano difícil, mas não creio que estejamos em uma situação de desaceleração da economia. Acho que é uma turbulência passageira. Teremos um crescimento fraco; a nossa projeção para 2022 é próxima a 1%, mas não compro a ideia de uma recessão ou de estagnação”.
O economista mencionou que, apesar da taxa de juros em elevação, a liquidez no mercado de crédito é intensa. “Existem vários bancos competindo pelas empresas, com muitas opções de linhas de crédito. O resultado é que o spread bancário está parado a despeito da taxa de juros. Então, as condições de crédito ainda são boas. Outra coisa importante é que o mercado formal de trabalho está indo muito bem e o que esperamos é que, ao longo de 2022, o mercado informal comece a andar um pouco mais. Por último, estamos vendo uma inflação que está rondando a casa dos 10%, mas existe um consenso entre os economistas que deve recuar para os 5% e, então, as condições favoráveis devem voltar”, avaliou.
O diretor de comunicação da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) lembrou que um dos macrotemas explorados no Concrete Show Xperience fez referência à infraestrutura e os reflexos no setor da construção civil. “O Brasil precisa de um ambiente favorável para atrair investimentos externos. As incertezas fiscais, a alta de juro e inflação deixam os investidores com o pé no freio. O que seria necessário para atrair o investidor estrangeiro?”
Na leitura de Padovani as condições de crescimento dependem de infraestrutura, mão de obra qualificada e um ambiente de negócios favorável para atrair investimentos. “Se, por um lado, fico preocupado porque não temos grande oferta de mão de obra qualificada, muito menos um ambiente de negócios atrativo, por outro, a única coisa que vai significar crescimento é infraestrutura. A notícia ruim é que o setor público não tem nem mais um tostão para investir. Para se ter ideia, 70% do que se arrecada estão comprometidos com folha de pagamentos. Quem vai decidir esse jogo é o setor privado nacional e estrangeiro, por isso é tão importante melhorar o ambiente de negócios, tornando-o mais atrativo. Se criarmos bons marcos regulatórios será possível dar segurança a esse investidor”.
Sobre a escalada inflacionária, o economista confirmou que o ritmo é preocupante e o setor da construção deve ser impactado. “Entretanto, os gargalos de produção devem desaparecer no ano que vem, então, a tendência é uma certa normalização. O preço das matérias-primas também precisa ser acompanhado, além do custo da energia elétrica e térmica. Ou seja, os custos de produção vão ficar caros, mas a demanda tende a se acomodar. Não teremos o choque vivido em 2021, quando vivemos um comprometimento das margens das empresas”, finalizou.
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