O segundo dia do Concrete Show Xperience, evento virtual para a cadeia produtiva da construção em concreto, começou com a análise do cenário de evolução do INCC (Índice Nacional de Custo de Construção), apurado pela Fundação Getúlio Vargas e que registra o aumento dos custos de insumos utilizados nas construções habitacionais. O evento segue até hoje, quinta-feira (28). 

O presidente do Instituto Brasileiro de Telas Soldadas (IBTS), João Batista, conversou com a coordenadora de Projetos no Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), Ana Maria Castelo. “O tema tem interesse muito relevante para o nosso mercado, porque o INCC mede a variação do custo de insumos utilizados na construção, o que tem impacto direto nos projetos”, comentou Batista.  

Segundo Ana Maria, a evolução dos custos é sempre uma questão muito relevante para o setor da construção, porque expressa o comportamento do custo para as empresas. Hoje, o índice é composto por três recortes fundamentais: mão de obra (com participação de 49% na composição do índice); materiais e equipamentos (42,5%); e serviços (8,5%), além de taxas cartorárias. Além disso, outras variantes influenciam o comportamento dos preços, como o cenário internacional, que influencia quando há variação da cotação em dólares das commodities – que são insumos de materiais que entram na cesta, como o cobre. 

Tendência de alta 

O INCC acumulado do ano chegou aos 12,88% e a tendência é de alta, de acordo com a análise da coordenadora de Projetos no FGV IBRE. “Temos ainda dois meses para o final do ano e não há nenhum indicativo de deflação. Certamente, a taxa deve chegar a dezembro superando a marca de 12,88%, mas acredito que, considerando os 12 meses do ano, a tendência é de enfraquecimento do ritmo da elevação do índice, mas não de queda. Ou seja, devemos ver uma desaceleração da alta, mas ainda com elevação dos preços na média”.  

Questionada por Batista se a alta nos preços dos insumos impactou a confiança dos players no setor, Ana Maria garantiu que, a partir das sondagens feitas pelo IBRE, a reação das empresas foi intensa. “Em outubro a confiança das empresas já tinha voltado aos patamares pré pandemia, mas a rápida elevação dos preços afetou severamente essa percepção, indicando dificuldade das empresas em montarem seus orçamentos de obras novas. A percepção que registramos é mais negativa sobre o ambiente de negócios. O aumento dos custos superou a falta de demanda e a própria pandemia como principal dificuldade na opinião dos empresários do setor da construção”, disse.  

Batista propôs outra questão para discussão: “É possível atingir novamente o patamar de 2013 ou isso é coisa do passado? “A construção teve um ciclo próspero, entre 2007 e 2013, quando cresceu 6% ao ano, mas que caiu depois ao ritmo de 5% ao ano. Hoje, o PIB da construção está 30% abaixo do que foi em 2013. Mas, começamos a ver uma reação e surge a pergunta se podemos dar início a um ciclo de prosperidade para o setor. Se olharmos as demandas do país, temos déficits habitacionais importantes, mas essas oportunidades precisam se transformar em negócios e isso implica na oferta de recursos para suplantar as dificuldades domésticas, como a atração do capital externo, a elevação da taxa de juros que tem repercussão no financiamento imobiliário. Oportunidades temos, desafios também”, avaliou a coordenadora de Projetos no (FGV IBRE).  

Ana Maria enfatizou que um dos grandes desafios do setor da construção é o ganho de produtividade. “Mesmo vencendo o desafio de termos financiamentos, não conseguiríamos atingir os objetivos sem modernizar e industrializar o setor e atingir a competitividade, o que é crucial para o crescimento. A questão não é recuperar o pico anterior, mas conseguir sustentar um crescimento por um longo período, e isso será possível apenas com a modernização e industrialização da construção”, avaliou.     

2022 e as variáveis   

Quando o olhar vai para 2022, Ana Maria alerta que o cenário cambial pode ter impacto importante no cenário interno, assim como as questões energéticas. “Vejo para 2022 um cenário não tão conturbado, mas não vejo margens para inversão dos preços. Prevemos uma taxa acumulada inferior à deste ano, mas quanto à velocidade da elevação dos preços. Além disso, existe uma preocupação importante com a aceleração da inflação, que deve fechar em torno dos 9%, o que é uma guinada muito brusca e que tem efeitos a médio prazo. Também se vê, à medida que se concretiza a expectativa do aumento da taxa de juros, uma diminuição nas projeções do PIB para o ano que vem. A imprevisibilidade do cenário atual é complicada, mas vamos procurar, na medida do possível, lidar com ela”, finalizou.  

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