Uma preocupação pertinente no setor das construções é sobre a durabilidade nas estruturas de concreto, que nos últimos anos aparenta não ser tão resistente quanto em décadas passadas. Entretanto, visando contornar tal situação, engenheiros apontam alguns caminhos para a melhoria dessa situação: inovações nos recursos, maior capacitação profissional e conscientização da manutenção da obra são fundamentais para esse processo.
A 14ª edição do Concrete Show, que aconteceu no mês de agosto, em São Paulo, levantou o assunto com o painel “Recursos e Inovações para Aumento da Durabilidade das Estruturas de Concreto”, apresentado pelas hosts do podcast Engenheiras Notáveis Maressa Menezes e Giseli Azevedo e pelos também engenheiros Cesar Henrique S. Daher e Luís Cesar de Lucas, fundadores do IDD – Educação Avançada.
Patologias do concreto
Segundo os quatro especialistas, algumas mudanças nas últimas décadas aconteceram e propiciaram uma queda na qualidade das estruturas de concreto. A agressividade ambiental, como a poluição atmosférica, aumentou, ocasionando um maior desgaste dos materiais. Aliás, esses também mudaram: se no passado, por exemplo, o cimento era mais grosso e reagia mais lentamente, hoje é mais fino, assim como atualmente o aço é menos puro, visando maior resistência.
Outro ponto apresentado foi que os recém-formados cada vez mais apresentam menos conhecimento, indo no oposto da necessidade atual, visto que há um dimensionamento estrutural mais arrojado – algo que prevê mais experiência e capacidade do profissional. Além disso, reformas e mudanças de utilização em determinado espaço sem que haja avaliação de um especialista qualificado também podem comprometer a durabilidade do concreto.
Capacitação da mão de obra
Uma das soluções apresentadas está em uma melhor capacitação profissional desde e o início da formação, além de acompanhamento em todas as fases da vida da estrutura, passando por projeto, execução, manutenção, uso, operação e até mesmo uma possível demolição da obra – pois todas as partes do processo são de igual importância.
Os recursos, por sua vez, também são outro passo importante, principalmente pelas suas inovações ano a ano. “Essa questão do projeto para obras novas é fundamental. Mas qual era o conceito do concreto na década de 1970 e 1980? O concreto é eterno, é a rocha moldável. Com o passar dos anos, observamos que não é bem assim”, ressaltou Luís.
Em meados e final da década de 1990, começaram a surgir novas tecnologias, como aditivos de terceira geração que propiciaram trabalhos de concreto com menores relações entre água e cimento. Houve também ensaios e pesquisas sobre uso de adições em concreto.
Tecnologia do concreto
Como resultado, novos tipos de concretos chegaram ao mercado, como os autocicatrizantes, em que bactérias dentro de cápsulas que se rompem quando há uma fissura no concreto e, assim, possibilita a entrada de umidade, acordando as bactérias e auxiliando na liberação de carbonato de cálcio para fechar a fissura.
Entretanto, essa técnica não funciona em temperaturas inferiores a 15ºC, pois mata as bactérias. Deste modo, após mais estudos, foi descoberto que encapsular os cristalizantes também funciona, além de baratear o custo, pois o valor das bactérias é muito elevado. Vale ressaltar que rachaduras maiores não se cicatrizam sozinhas.
Outro exemplo de tecnologia são os Inibidores de corrosão, que podem ser colocados dentro do concreto ou então em forma de pintura que, por imersão, vai para dentro do concreto, sendo uma ótima opção para as construções antigas.
Em relação às novas descobertas sobre os mesmos recursos, o caso das fibras é um bom exemplo: “As fibras foram criadas, na verdade, para estruturas sujeitas a incêndio e com o tempo descobriram que serve para outras funções”, disse Cesar. Como resultado, foi descoberto que a aplicação de fibras no concreto o deixa menos rígido, criando o concreto flexível.
Vergalhões compostos também são ótimos aliados, com destaque para o que tem fibra de vidro álcali-resistente em sua composição, impossibilitando o cimento de corroer o vidro. Há também os vergalhões de aço inoxidável, mas que elevam muito o custo da obra.
Por fim, foi citado o exemplo das construções off-side: “Construir fora e trazer pro canteiro tudo montado, o que seria a industrialização real da construção”, completou Cesar. E nesse ponto, outra questão entra em jogo: a necessidade de melhorar os projetos.
No Brasil, é bastante comum o projeto ser feito em paralelo com as obras, enquanto deveria ser um passo anterior à construção. O correto seria projetar (mesmo que por anos, se for necessário), para depois subir a obra em meses. Essa questão deveria ser fundamental em todos os tipos de obras, mas se torna ainda mais importante nas construções off-side, afinal, qualquer milímetro mal projetado nas peças de encaixe poderia comprometer todo o edifício. E aqui é importante que o projetista tenha todos os detalhes da obra, incluindo o tipo de cimento para a produção de concreto, porque cada um possui sua própria peculiaridade.
Apesar disso, nada será útil sem aquele que talvez seja o principal ponto após a obra estar concluída: a manutenção. E para que funcione, se faz necessária a conscientização do usuário com relação a essa manutenção, de modo que haja uma prevenção antes da necessidade de uma correção. “A gente está falando de aumento de durabilidade, então a manutenção está diretamente ligada à durabilidade das estruturas”, explicou Marissa.
É possível traçar um paralelo com o corpo humano: as obras também precisam de exames periódicos, para que se possa trabalhar de forma preventiva e não de forma corretiva. E aqui os palestrantes ressaltaram a importância de somar técnicas adequadas com produtos adequados e mão de obra altamente especializada, pois exige um conhecimento técnico avançado.
Antes de concluir, um outro ponto foi comentado: a ausência da disciplina “patologias das construções” nas aulas de engenharia atuais. Pois é a partir dessa aula que os alunos – e futuros profissionais – podem atuar não apenas na manutenção preventiva, como também iniciar o projeto da obra podendo evitar que alguns tipos de problemas surjam com o tempo ou, na pior da hipóteses, poder prever o que e quando acontecerá.
No fim, as engenheiras Maressa Menezes e Giseli Azevedo levaram ao público uma frase falada pela convidada Eng. Jéssika Pacheco em um episódio do podcast: “a imperícia na engenharia mata mais do que a imperícia médica”, justificando ainda mais a necessidade das manutenções e das outras lições para que os concretos sejam mais duradouros.