A Cúpula do Clima, realizada em abril, mostrou o comprometimento das principais potências globais para diminuir os riscos das mudanças climáticas, com o objetivo de manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C. Foram anunciadas redução de, pelo menos, metade das emissões de gases de efeito estufa até 2030 por maior parte dos países, em especial, do novo governo dos Estados Unidos, que aderiu de maneira veemente ao Acordo de Paris.

A reunião trouxe um otimismo de que importantes ações serão estabelecidas rapidamente para a conservação do planeta, dos biomas e da vida. No caso da construção, há um envolvimento cada vez maior do mercado nesta direção, ainda mais com a valorização de iniciativas ESG (Governança ambiental, social e corporativa).

Especificamente sobre o pré-fabricado de concreto, os preceitos da sustentabilidade estão alinhados com nosso setor, pois permitem construir estruturas mais resistentes; mais duráveis; com menos esforço físico dos operários e com menos ruído. Além disso, por ser um processo construtivo industrializado, oferece melhores condições de maior controle do desempenho ambiental em termos de redução no consumo de água, energia e recursos materiais não renováveis durante o processo construtivo e também na montagem no canteiro de obra, diminuindo a emissão de CO² e gerando menos desperdício, resíduos e entulhos. Isso significa fazer o máximo com o mínimo de material, de uma maneira mais econômica, e que afete o mínimo o ambiente, que não prejudique os operários e que resulte numa quantidade ínfima de resíduos.

Ao acelerar a construção, o pré-fabricado de concreto diminui ainda impactos ambientais no entorno e a eficiência energética de alguns elementos pode poupar energia e aumentar o desempenho relacionado ao conforto acústico e térmico (painéis sanduíche, paredes duplas, lajes alveolares). Há exemplos concretos de obras no segmento habitacional, por exemplo, nas quais o uso da construção industrializada de concreto permitiu gerar até 80% menos resíduo na comparação com estrutura moldada in loco e de alvenaria. Nesse caso, a obra gerou uma média de 28 kg de resíduos por metro quadrado, enquanto que a construção tradicional gera, em média, 150 kg de resíduos por metro quadrado.

É importante ressaltar que o setor tem trabalhado essas questões de sustentabilidade há pelo menos duas décadas, com a criação da Abcic e o desenvolvimento do Selo de Excelência Abcic, um programa de certificação que atesta a conformidade aos padrões de tecnologia, qualidade, segurança, meio ambiente e desempenho das empresas do setor de pré-fabricados. Em seu nível III, engloba a gestão ambiental, a identificação de impactos ambientais; controle dos impactos; análise da legislação ambiental e treinamento em gestão ambiental.

Os fabricantes associados à Abcic que possuem o Nível III do Selo de Excelência, em cada planta de produção adotam estratégias para aprimorar aspectos ligados ao consumo de água e energia na produção; geração e destino de resíduos sólidos produzidos; ruídos gerados na planta; emissão de gás carbônico (CO²); circulação de veículos pesados no transporte de elementos da planta até a obra.

Contudo, para contribuir ainda mais para ampliar a ecoeficiência do setor, a tecnologia é primordial, em especial, àquelas relacionadas à indústria do concreto e do segmento do aço. E também é imprescindível avaliar todo o ciclo de vida de elementos pré-fabricados de concreto, pensando nos impactos ambientais da operação, manutenção e do reaproveitamento após o uso, pois não necessariamente venha a ser descartada. Por isso, mesmo com todos os benefícios ambientais trazidos pela solução de engenharia, nosso setor entende que é preciso continuar de forma constante o aprimoramento de processos, o desenvolvimento de novas tecnologias e o monitoramento de métricas de desempenho ambiental, afinal a sustentabilidade é um requisito obrigatório para a manutenção da competitividade da indústria.

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*Íria Lícia Oliva Doniak é a presidente executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (Abcic). Durante a carreira, atuou em usina de concreto, na indústria cimenteira (Votorantim Cimentos) e foi consultora nas áreas de controle de qualidade e pesquisa e desenvolvimento na indústria de pré-fabricados. Foi também, ao mesmo tempo em que atuou com consultoria, auditora líder do BVQI (Bureau Veritas Quality International), tendo auditado empresas construtoras e canteiro de obras de edificações e infraestrutura em todo o Brasil.  Engenheira Civil, graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná em 1988, atualmente cursando o MBA–FGV em economia com ênfase em Relações Governamentais.