A ocupação dos espaços ociosos urbanos cresce a cada ano. Segundo projeções da Organização das Nações Unidas (ONU), a população mundial crescerá em mais de 2 bilhões até 2050. Dessas pessoas, 70% habitarão em zonas urbanas. No entanto, o desenvolvimento estruturado não acompanha esse crescimento.  

Historicamente, o planejamento das cidades negligenciou a escala humana. Em outras palavras, metrópoles foram e ainda são construídas sem considerar que o tecido urbano é vivido, diariamente, por pessoas. Ao longo dos anos, isso resultou na criação de espaços ociosos, que podem ser encontrados em todo grande município brasileiro e acabam virando foco de poluição e criminalidade.  

Contudo, uma nova discussão se abre sobre o assunto. A aplicação de escala é vista em projetos de cidades inteligentes no Brasil e no mundo. Projetos esses que, muitas vezes, buscam ressignificar o uso dos espaços ociosos e trazer a eles um novo propósito: servir à comunidade.   

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As oportunidades proporcionadas pelo uso dos espaços ociosos 

A recuperação de espaços ociosos permite que as pessoas tenham uma base para desenvolverem as suas vidas. É o que afirma Stella Hiroki, consultora e doutora sobre cidades inteligentes pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).  

De acordo com ela, recuperar esses espaços possibilita a retomada da função para a infraestrutura, que já está construída e fica próxima a outros aparelhos de lazer, cultura, trabalho e educação. “Consequentemente, a cidade passa por essa transformação positiva para ambientes mais seguros, sustentáveis e acolhedores”.  

A consultora, que também é fundadora da Smart City Talks — uma plataforma de conteúdo criada com o objetivo de incentivar as mulheres a empreenderem com tecnologia e inspirar pessoas a tornarem as cidades mais inteligentes —, destaca projetos no Brasil e no mundo que buscam dar uma nova vida a locais antes abandonados.  

Como exemplo, Hiroki cita o Edifício Dandara, um antigo prédio do Tribunal do Trabalho localizado no centro da cidade de São Paulo. A construção ficou abandonada por mais de dez anos em plena Avenida Ipiranga, uma das mais famosas da cidade, e teve a sua posse doada ao movimento da Unificação das Lutas de Cortiço e Moradia (UCLM) para fins de habitação de interesse social em 2009.  

Segundo Hiroki, foi necessária uma união entre os três pilares das cidades inteligentes — iniciativa pública, iniciativa privada e sociedade civil — para que, enfim, o prédio ganhasse uma nova vida e tivesse função na cidade. O Dandara foi revitalizado e reinaugurado em 2018 como um edifício habitacional, com 120 unidades de apartamentos.  

A consultora ainda destaca o benefício não só para as pessoas que tiveram a oportunidade de conquistar a casa própria com o projeto, mas também os impactos para a vizinhança.   

“Os vizinhos começaram a perceber que eles também deveriam cuidar de suas fachadas e isso provocou um efeito em cascata de boas práticas na quadra, na rua e no bairro”, conta. 

Os entraves para o uso de espaços ociosos e o que pode ser colocado em prática 

Ainda existem muitos entraves, especialmente burocráticos, para a utilização dos espaços ociosos e sua revitalização. A falta de interesse do poder público e da iniciativa privada são os principais deles, uma vez que há poucos estudos sobre os retornos que tais investimentos podem trazer.  Apesar disso, alguns avanços devem ser destacados. Em Umuarama, no Paraná, um projeto do vereador Mateus Barreto (PPS) busca garantir o uso dos espaços públicos e privados ociosos na cidade para a prática de horta, jardinagem e silvicultura.  

Ainda no Brasil, Joinville, em Santa Catarina, se tornou destaque pela preservação do patrimônio. Como exemplo, temos a criação e instalação da Secretaria de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável (Sepud) em um prédio histórico da cidade, construído segundo o padrão das concessionárias da empresa automotiva Ford dos anos 1950, um dos últimos restantes no mundo com essa arquitetura.   

No entanto, a geração de soluções parece ser mais lenta que o surgimento de novos problemas e aumento das situações críticas. Para mudar esse cenário, é necessário não só que o poder público se volte para esses lugares, mas também que a iniciativa privada na construção civil passe a considerar os usuários finais das edificações em seus projetos, criando e revitalizando espaços que sejam efetivamente úteis.  

Hiroki finaliza destacando o trabalho realizado em Melbourne, na Austrália, como um exemplo a ser seguido. Com a necessidade de construir mais espaços para abrigar empresas locais, o governo se posicionou a favor de revitalizar o centro da cidade e as linhas de bonde que passavam por lá. Assim, reduziu os impostos para negócios que tivessem interesse em se estabelecer na região.   

Dessa maneira, de acordo com a consultora, “o que antes era considerado um local degradado se tornou um espaço seguro, com atração de mão de obra qualificada e vivência do local nos períodos diurno e noturno”.   

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