Um tema debatido no Seminário da ABCIC – Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto foi “A Engenharia Estrutural e as Contribuições para a Industrialização e a Pré-Fabricação em Concreto”, em um painel apresentado por Augusto Pedreira de Freitas, engenheiro e diretor na Pedreira Ônix Engenharia e projetista de estrutura.
Durante a apresentação, o especialista explicou os motivos do pré-fabricado ter caído em desuso nos últimos anos, ressaltando que a indústria deveria virar a chave agora para voltar a utilizar com mais frequência. “Nos anos 1990 e início dos anos 2000, tínhamos mais pré-fabricados na área residencial do que hoje. Nos anos 2010 ainda tinha bastante, mas murchou. E agora estamos vendo o que precisa para mudarmos de pensamento para que o pré-fabricado seja solução não apenas para galpão e shoppings centers, mas também para o setor residencial”, disse o especialista.
Augusto destacou que a construção off-site (fabricação de componentes em fábrica, montados no canteiro, permitindo maior eficiência e controle de qualidade), com pré-fabricados, pode ser uma solução eficaz para o déficit habitacional do país, oferecendo alternativas mais rápidas e eficientes. A falta de mão de obra na construção civil foi apontada como um dos fatores críticos que reforçam que o momento ideal para a adoção do pré-fabricado é agora.
Segundo ele, “o jovem não quer mais trabalhar na construção civil, sendo o maior indício de que chegou o momento do pré-fabricado. Ninguém quer montar tijolo a tijolo, algo menos ‘digno’ do que trabalhar com o pré-fabricado. Nunca tivemos crise de mão de obra como essa, em que é cultural, não por falta de pessoas”. A industrialização da construção civil também foi apresentada como uma forma de atrair mão de obra mais qualificada e de atender à crescente demanda por sustentabilidade, algo que deixou de ser desejo e passou a ser necessidade.
Histórico brasileiro reforça a importância do pré-fabricado
Apesar de haver experiências bem-sucedidas com pré-fabricados residenciais desde os anos 1970, essas iniciativas têm sido cada vez mais isoladas. Augusto reforçou que a adoção do pré-fabricado não é uma novidade e que as normas brasileiras permitem a realização de projetos mais complexos. “Com as normas que temos no Brasil, não tem nada que nos impeça de projetar [obras mais complexas]. Não tem nada que dificulte isso. Pelo contrário, conseguimos fazer num painel de fachada detalhes ‘impossíveis’ de se fazer numa construção”, afirmou.
Embora o pré-fabricado possa ter um custo inicial mais elevado, esse investimento é justificado pelo alto valor agregado e pelo retorno econômico ao longo do tempo. Quando tem elementos estruturais menores que são pré-fabricados, a conta fica mais complexa, mas compensa. Fazer uma escada pré-moldada no canteiro, por exemplo, é mais caro, mas o valor é diluído na estrutura inteira. Quanto feita in loco, entretanto, encarece, por elementos como mão de obra local precisam ser considerados.
Além disso, a obra não precisa ser inteiramente em pré-fabricado, com apenas elementos específicos sendo neste formato. “Na questão residencial não precisa pensar na obra toda. Por que não pensar em partes?”, sugeriu, mencionando o uso de pré-vigas e escadas, por exemplo, como uma forma de reduzir o consumo de concreto sem aumentar significativamente os custos.
Augusto também apontou que um dos desafios para a popularização do pré-fabricado é a escassez de fornecedores, especialmente considerando o tamanho do Brasil. Ele comparou a situação nacional com a Bélgica, que possui mais fornecedores de pré-fabricados do que o território brasileiro, apesar de ser um país menor. Para que a industrialização na construção civil seja efetiva, é necessário um esforço conjunto de todos os envolvidos, desde a indústria até os empreendedores.
Sugestões de aplicação
No painel foi mencionado a possibilidade de fabricar em carrossel, em um sistema inspirado no toyotismo, que busca otimizar a produção através de ciclos eficientes e integrados. “Ainda tem um grande caminho a percorrer. Quando estiver na produção máxima, funciona muito bem desde que todos os ciclos estejam funcionando na mesma linha”, comentou Augusto.
A aparência final das construções também foi abordada, visto que muitos clientes apontam que o pré-fabricado pode não ser esteticamente muito bonito. Augusto, por sua vez, afirmou que não há diferença visível entre construções pré-fabricadas e convencionais, o que pode contribuir para uma maior aceitação do pré-fabricado.
Por fim, enfatizou a necessidade urgente de formar equipes especializadas e investir em projetos de pré-fabricados, ressaltando que o sucesso dessa industrialização depende da colaboração de todos os agentes envolvidos no setor.
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