É preciso industrializar a construção civil no Brasil? A resposta é sim. Essa foi a ideia geral reforçada por especialistas e profissionais do setor que participaram do Concrete Show, evento da cadeia construtiva. O déficit habitacional no país – de 7,8 milhões de moradias com a previsão de chegar a 30,7 milhões até 2030, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas -, a crescente carência de mão de obra qualificada e a necessidade da redução do consumo e desperdício de insumos são os argumentos mais citados para justificar as demandas de modernização da construção civil no país.

“A industrialização ganha um protagonismo ainda maior no desenvolvimento da construção civil nacional, porque além das características de resistência, desempenho e durabilidade agregamos também os requisitos de uma construção sustentável”, comentou a presidente executiva da Abcic (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto), Íria Doniak, durante o seminário “A industrialização da construção em concreto – Tecnologias e soluções rumo à neutralidade de carbono”, realizado no Concrete Show. 

Em relação aos desafios para o caminho de industrialização estão barreiras como a falta de linhas de financiamento imobiliário para projetos de ciclos mais curtos que os tradicionais, a isonomia tributária entre a construção industrializada e a convencional e a inclusão da competência de construção industrializada na grade de ensino das universidades de engenharia e arquitetura.

No sentido de industrialização, uma nova aposta são as construções modulares e off-site. Similar ao encaixe de bloco Legos, o método de construção modular concentra as atividades no ambiente industrial, ou seja, fora do local da obra, com processos de fabricação de módulos padronizados (paredes, pisos, lajes, por exemplo) transportados para a montagem no canteiro de obras.

Durante o mesmo o seminário, o presidente do Conselho C3 (Clube da Construção Civil) e CEO da Aratau Construção Modular, Paulo Sérgio de Oliveira, explicou que entre as vantagens desse sistema construtivo estão os ganhos expressivos de produtividade, uma vez que os módulos já saem prontos de fábrica para montagem na obra, a redução de desperdício de materiais e o menor consumo de água e energia na produção dos módulos, e também um controle maior de custos e prazos. 

Oliveira comentou sobre o promissor potencial desse mercado, em evidência também fora do Brasil. Segundo pesquisa da consultoria McKinsey, a construção modular pode movimentar cerca de US$ 130 bilhões nos Estados Unidos e na Europa até 2030.

Já o engenheiro Breno Guilherme Nones aproveitou a própria palestra durante o seminário para apresentar um exemplo de construção modular desenvolvida no Brasil. Trata-se do projeto habitacional Bairro Integrado Residencial Ecoparque, que será construído na cidade de Cascavel (PR), a partir de uma fábrica que está sendo implantada ao lado do local escolhido para o Ecoparque. 

“A fábrica estará pronta para testes no final deste ano e deve começar a operar em 2024. Com a capacidade total será possível fabricar 20 prédios de 15 andares a cada seis meses. O Ecoparque traz um novo conceito de bairro integrado com residências e serviços básicos oferecidos aos moradores como creches, escolas, parques infantis e unidades de saúde”, disse Nunes. A ideia, segundo o engenheiro, é que o projeto seja multiplicado no país por franquias.

Paredes de concreto

O novo momento das construções em concreto também ganhou destaque nesta edição do Concrete Show. Com uma série de palestras dedicadas exclusivamente ao tema, especialistas chamaram a atenção do público para as oportunidades do mercado e para a expansão do uso de paredes de concreto em edifícios altos ao longo do congresso ‘Construindo Conhecimento’. 

Durante a abertura do 2º Seminário Paredes de Concreto Para Prédios Altos, com curadoria da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem (Abesc), o engenheiro da Signo Engenharia, Ary Fonseca Júnior, apresentou a cronologia do uso de paredes de concreto em empreendimentos e os modelos mais atuais. “É notável que a verticalização com o uso desse material está em alta; é um mercado aquecido e que prevê prédios cada vez mais altos. Precisamos ficar atentos às novas oportunidades de negócios”, explicou durante o painel de abertura. 

Cases de sucesso em Campinas e Aracaju

Ao longo da programação do seminário, os congressistas puderam conhecer diferentes empreendimentos feitos à base do sistema construtivo de paredes de concreto. Leandro de Castro Melo, engenheiro e coordenador de obras da HM Engenharia, falou sobre os desafios do HM Intense, em Campinas, um projeto construído em 60 mil m², com edifício garagem, seis torres de 18 pavimentos cada e 852 unidades habitacionais feitas integralmente em paredes de concreto. 

“Lembro que há alguns anos os prédios de oito andares eram considerados edifícios altos, no que tange à engenharia de concretagem. Hoje podemos ver nitidamente a evolução desse segmento, com edificações de térreo mais 17 pavimentos, tudo à base de concreto”, comentou Melo. 

Segundo o especialista, os principais desafios para esse tipo de projeto encontram-se na fase de planejamento, anterior ao início das obras, em que toda a logística envolvida deve ser minuciosamente calculada. “De seis a três meses antes do começo da obra é preciso discutir e pensar em todos os detalhes do projeto, pois, uma vez em andamento, a obra nesse modelo é rápida. Vale destacar também que o maior problema não é na estrutura e sim nos ajustes dos pavimentos especiais, como a troca de modelagem de fôrmas, a construção do térreo e das áreas de lazer. Feito isso, a obra ganha fluxo e produtividade”, detalhou o engenheiro.

A meta de concretagem imposta pela construtora foi de até quatro unidades habitacionais por dia, o que, segundo o palestrante, foi cumprido em um ciclo de 216 dias. 

Outro exemplo apresentado durante o seminário foi o residencial Solar Nova Aruana, em Aracaju, realizado pela FFB Engenharia. O engenheiro e sócio diretor da empresa, Francisco Barreto, deu detalhes da execução da obra. “Trata-se de um empreendimento grande, com quatro torres de 10 pavimentos cada, construído em uma área de mais de 12 mil m². Optamos por usar na construção paredes de concreto e também drywall, tornando assim todas as unidades adaptáveis para casos de pessoas que são ou venham a se tornar PCDs”, explicou.  

Barreto destacou que os principais pontos a serem observados ao adotar uma obra nesse modelo é o planejamento integral do projeto em conjunto com todos os segmentos envolvidos, além da criação de um robusto caderno de engenharia. “O diferencial é ter um planejamento detalhado, que envolve um cronograma completo de entregas, contrações, fluxo de produção, agenda de metas, entre outros itens. Depois que trabalhamos dessa forma organizada, fica difícil retrocedermos, pois a qualidade e a produtividade melhoram muito”. 

‘Mega Demo’ Paredes de Concreto

O espaço ‘Mega Demo’ Paredes de Concreto trouxe para o público do Concrete Show uma demonstração prática da construção de uma parede de concreto, em que foi possível acompanhar passo-a-passo os estágios de uma obra com o sistema construtivo desde a fase de estrutura e instalações hidráulicas e elétricas, passando pela montagem das fôrmas de alumínio até a concretagem da parede.

Nesta edição, o espaço abrigou também um palco para palestras gratuitas e exclusivas sobre a temática. A ‘Mega Demo’ contou com grandes marcas como AGF, Ambar, Coplas, Construlimpee, Curra e Forsa, além da parceria da ArcelorMittal e Concreserv.

Termômetro de negócios aquecido na cadeia de construção, que está em alta 

Com corredores e estandes lotados desde o primeiro dia, o clima é de otimismo entre as mais de 370 marcas expositoras presentes na 14ª edição do Concrete Show. De volta ao evento como expositora, a montadora Volkswagen Caminhões apresentou em primeira mão aos visitantes o lançamento do caminhão da série Constellation 27260, na versão 8 x 4,  o sucessor do 26260. Agora, o equipamento ganhou uma tonelada a mais de capacidade de carga, além de ser preparado para todas as necessidades do segmento de construção e off-road

O engenheiro de marketing de produto da empresa, Maicon Generoso, ressalta que a marca celebra o retorno ao Concrete Show com grandes expectativas. “Estamos muito contentes em voltar para esse importante evento, agora com estande e demonstração de produtos. Acreditamos que serão três dias de muito networking e vendas consolidadas, por isso, estamos com condições especiais para negócios fechados no Concrete Show 2023”. 

Com estande lotado, a Caterpillar é outra empresa que volta a expor no Concrete Show em 2023. A companhia trouxe ao evento um de seus produtos de maior sucesso: a mini escavadeira 302.7, fabricada no Brasil. O equipamento é um dos recursos mais utilizados pelo setor da construção civil dada sua versatilidade e variedade de implementos compatíveis, como caçambas, brocas, rompedores e lâminas. 

O gerente de vendas de máquinas da marca, Anselmo Gomes, ressaltou que as expectativas são positivas para os três dias de evento. “Estamos surpresos com a demanda logo nas primeiras horas de feira. Acreditamos que será uma excelente edição para os negócios”.

Além de dois grandes estandes no Concrete Show, a Convicta concretizou parcerias com outras marcas expositoras do evento em 2023, o que possibilitou a exposição de 16 equipamentos da empresa por todo o pavilhão do São Paulo Expo. Entre as novidades está uma parceria estratégica com a empresa PPG Industries para a pintura especial de equipamentos como betoneiras, que ganharam ainda mais cores e detalhes, como a betoneira Camaleão, que pode ser vista em um dos estandes da empresa. Segundo a gerente de marketing da Convicta, Tiffany Souza, as projeções de negócios para a marca são muito positivas, uma vez que a empresa já fechou duas vendas logo nas primeiras horas de evento. 

A multinacional suíça de especialidades químicas para o setor de construção e indústria Sika também trouxe dois novos produtos para a área de exposições do São Paulo Expo: o Sikacrete 3D e a Sika Stabilizer RCT 323 BR.

O Sikacrete 3D tem como proposta a impressão de peças em concreto por intermédio de impressoras 3D, inclusive com a possibilidade de impressão no local da obra. “Essa é uma tecnologia que vem sendo desenvolvida e estudada pela Sika Brasil há mais de 10 anos. Nesse período, desenvolvemos a impressora, os softwares e os parâmetros para essa modalidade que, agora, passa a ganhar mais visibilidade. As principais vantagens do método estão ligadas à sustentabilidade, pois usamos menos materiais para a fabricação dos produtos e há melhor aproveitamento dos materiais e da agilidade da obra, porque é possível imprimir módulos para casas completas em até 24 horas”, explica o gerente de produtos de concreto LATAM da empresa, Manfredo Belohuby. O especialista destaca que esse é um dos principais saltos tecnológicos da cadeia de construção nos últimos 70 anos.

Outro lançamento que pode ser visto no estande da Sika é o Stabilizer RCT 323 BR, um aditivo especial para tratamento de sobras de concreto retornado. Quando adicionado ao concreto restante da obra, o produto tem uma ação geleificadora, não permitindo que o material endureça e perca a funcionalidade. Uma das principais vantagens do aditivo é a possibilidade de tratamento dos resíduos no próprio canteiro de obras, sem a necessidade de destinação a aterros e britagem. 

Segundo Manfredo, essa edição do Concrete Show será ainda mais especial para a empresa, que acaba de concluir a aquisição do Grupo MBCC, marca alemã que atua no campo de sistemas construtivos para a construção. 

Já a Dhalmar, fabricante de máquinas e equipamentos, trouxe ao Concrete Show um módulo de 12 metros de comprimento de uma estribadeira para produtos de até 20mm. O maquinário todo possui mais de 20 metros. “É a primeira vez que estamos expondo esse material na feira. A unidade exposta aqui no Concrete Show é uma máquina que já está vendida e atende muito bem setores como empresas de corte e dobra, fabricação de postes, pré-moldados, entre outros. Estamos confiantes para essa edição, acreditamos que faremos novos negócios a partir desse encontro com representantes do setor”, explicou o diretor da empresa, Alex José Neto Lourenço.

O Concrete Show 2023 vai até amanhã às 20h no São Paulo Expo. Faça seu credenciamento gratuito no site!