Já reparou por onde anda? Sem muito esforço, perceberá que boa parte do chão, especialmente de zonas urbanas, são de concreto ou então possuem concreto em sua composição, estando por baixo de azulejos, por exemplo. Entretanto, o que poucos sabem, é que o mercado nacional movimenta cerca de 26 milhões de metros quadrados de pisos de concreto por ano, com potencial para dobrar as vendas.

A informação foi revelada pelo engenheiro Marcos Saldanha, diretor da Comaro Engenharia, durante o painel “Execução de Pisos de Concreto – Cuidados para obtenção da qualidade planejada” na 14ª edição da Concrete Show, que aconteceu em agosto em São Paulo. Aliás, a apresentação fez parte do 15º Seminário de Pisos e Revestimentos de Alto Desempenho da ANAPRE (Associação Nacional de Pisos e Revestimentos de Alto Desempenho).

A previsão é que, entre 2023 e 2026, as empresas do setor comercializem cerca de 120 milhões de metros quadrados de pisos de concreto, superando um pouco a média atual de 26 milhões por ano. Esses, porém, são dados relacionados com a parte regulamentada do setor: “O mercado informal tem o mesmo quantitativo do formal, sendo uma oportunidade que a gente tem”, ressaltou Marcos.

O Brasil, por ser um país de dimensões continentais, possui uma alta necessidade de estruturas, com uma demanda crescente. A infraestrutura, por exemplo, está sempre em movimento, com inaugurações e reformas de aeroportos, rodoviárias, estradas, loteamento, pátios de armazenamento, estacionamentos e muitos outros espaços. 

Demandas Industriais e comerciais, como empreendimentos comerciais, shoppings, supermercados  e afins, também são alvos, especialmente pelo impulsionamento de diversos setores da indústria desde 2021. De acordo com o DAJ Consultoria, a demanda por pisos de concreto em construções industriais nos próximos 5 a 7 anos é estimada em 20,6 milhões de metros quadrados.

Mas, segundo Marcos, nenhuma dessas demandas é tão alta quanto os galpões logísticos, como centros de distribuição e atividades de estoque, que são os maiores impulsionadores da tecnologia de execução de pisos industriais. O que explica é o novo comportamento do consumidor, que desde 2015 vem intensificando a tendência do setor varejista, atacadista e supermercadista, incluindo as compras online, que necessitam de diversos centros logísticos.

Desde 2011, aliás, galpões logísticos para armazenagem e distribuição de cargas, principalmente para o agronegócio e grandes redes de supermercados, criaram uma forte demanda de mais de 10 milhões de metros quadrados por ano. “Quando você conhece o mercado, sua capacidade e suas soluções, consegue fazer seu planejamento estratégico. E assim tem posições importantes em cima dessas informações”, ressaltou Marcos.

A distribuição dos galpões logísticos até 2022 era de 52,9% no estado de São Paulo, 11,01% em Minas Gerais e 9,85% no Rio de Janeiro, demonstrando que há uma oportunidade de expansão a partir de uma menor diferença percentual entre outras regiões do Brasil.

Apesar de ser difícil mensurar, tanto nas infraestruturas, demandas Industriais e comerciais e nos galpões logísticos, é possível afirmar que há obras informais, demonstrando como o mercado legal tem potencial para crescimento.

Entretanto, para que se consiga dobrar a produção e comercialização formal, algumas dificuldades precisam ser superadas, como o aumento dos custos em função dos altos preços de peças e equipamentos, as altas tributárias que continuam reduzindo a competitividade do setor, a pouca mão-de-obra capacitada e negociações por preços similares de um mesmo produto. 

No momento, no Brasil há 120 empresas ativas de aplicação, sendo 80 de execução de pisos, 40 de revestimentos de alta demanda (RAD) e, entre essas, 32 realizam ambos os serviços. 

Outras questão sobre a produção de pisos de concreto no Brasil

O futuro do piso no Brasil também passa por outros desafios, como a capacidade de aguentar cada vez mais cargas e uma evolução enorme na logística, com mais robotização. Por isso, além de se equipar e evoluir nos materiais e soluções, Marcos Saldanha diz que “o setor precisa se valorizar e remunerar adequadamente os colaboradores, pois são eles a força principal para executar com qualidade os pisos e pavimentos do Brasil”.

Aqui também entra a questão do planejamento, pois é a partir dele que se inicia a busca pela qualidade do serviço. E isso envolve o entendimento das premissas do projeto e da necessidade produtiva e a real situação, além de conhecimentos da capacidade da concreteira que irá trabalhar em parceria e situação da obra, como terraplanagem, fechamento lateral, cobertura, acessos, entre outros.

A concreteira merece uma digressão à parte dentro desse planejamento, pois nela é necessário avaliar pontos como: o ajuste de traço (trabalhabilidade e tempo de pega);  tecnologia, automação, números de betoneira e capacidade de armazenamento; e adaptação a fibras (aço e macro), microfibras, superfluidificante e compensador de refração. “A gente (concreteiras e empresas de pisos) tem que ter uma relação aberta e franca, conhecer e ajudar quando possível. E acho que, de uns seis anos para cá, estão imputando às concreteiras uma série de novas responsabilidades”, reclamou Marcos, defendendo as parceiras e dizendo que isso prejudica a eficiência do serviço. 

Voltando, quando o planejamento estiver concluído, também é bom se certificar sobre a mão-de-obra necessária. Na Comaro Engenharia, segundo Saldanha, as equipes trabalham com um efetivo mínimo de 16 pessoas no dimensionamento da equipe: um supervisor, um encarregado, um operador, três pedreiros (lançamento, bordas, vibração e float), três pedreiros de acabamento, um armador, um meio-oficial e cinco ajudantes.

O engenheiro também comentou qual o maquinário mínimo necessário: um laser screed, três acabadoras duplas de 48 polegadas, duas de 36 polegadas e duas de 24 polegadas, três máquinas de corte, quatro vibradores de imersão individual, dois vibro strikes, um nível ótico e um nível laser. Claro que essa é a situação da Comaro Engenharia para um efetivo mínimo, mas a quantidade pode variar entre empresas e os serviços oferecidos. 

Em relação às novidades nos pisos do Brasil, algumas soluções foram apresentadas, assim como suas especificações: 

  • Fibras sintéticas – Trouxe ganho comercial, praticidade, controle de fissuração e redução da espessura, mas exige novas metodologias na execução, utilização no agregado mineral e adequação dos equipamentos;
  • Juntas metálicas – Bastante usada na Europa e crescente nos projetos brasileiros, elimina as barras de transferências, lábios poliméricos e selantes e não tem necessidade de prazos para sua utilização, mas sofre oscilação do preço internacional do aço;
  • Equipamento de avaliação do piso (Scanner) – Aparelho que tem capacidade de avaliar patologias, posicionamento do aço, espessuras, vazios e áreas porosas;
  • Compensador de refração – Aditivo a base de óxido de cálcio que tem permitido o uso de placas maiores e com controle sobre abertura de juntas;
  • Lapidação com reforço superficial e estético – Tratamento de alta performance para ampliar a resistência superficial e aumentar a qualidade estética.

Por fim, Marcos Saldanha reforçou também que a planicidade e nivelamento necessitam de uma atenção maior: “Hoje uma empresa não ocupa espaço se não entender a importância dos índices de planicidade e planejamento”. 

O engenheiro também aproveitou para falar sobre o passo a passo da aplicação, que você confere abaixo:

  1. Controle sobre a qualidade do concreto;
  2. Utilização do nível óptico e laser com bom potencial e calibrado, sempre com distâncias controladas; 
  3. Uso correto do laser screed e cuidado na sobreposição da passagem da lâmina; 
  4. Utilização do float de forma leve após o laser screed; Lançamento do agregado e rodo (de 4 a 6 metros) de forma leve nos dois sentidos; 
  5. Conferência com nível laser diversas vezes; 
  6. Entrada da acabadora simples ou dupla de 36 polegadas; 
  7. Entrada das acabadoras duplas com sentidos bem definidos; 
  8. Repassagem dos rodos de corte conferência com nível laser; 
  9. E finalização com as acabadoras de polimento final.