O aumento da produtividade é um dos maiores desafios do crescimento sustentável perseguido pela economia brasileira. Isso significa que as organizações precisam produzir e prestar serviços em prazos mais curtos, com melhor qualidade e a custos menores. Dessa produtividade depende tanto a competitividade do País, quanto o aumento de salários e renda, que conduzem a mais prosperidade e justiça social.

A produtividade é diretamente impactada pela capacitação e qualidade da mão de obra, fatores críticos, tanto para o desenvolvimento tecnológico como para a inovação. Tanto é verdade que os especialistas são unânimes em dizer que a falta de profissionais bem preparados também ajuda a emperrar o crescimento do País a taxas mais robustas e constantes.

A construção civil também enfrenta o problema da propalada escassez de talentos. Com significativa participação no Produto Interno Bruto (PIB) e na geração de empregos – e mesmo com a desaceleração econômica nos últimos dois anos -, o setor segue prevendo crescimento acima do PIB, impulsionado, sobretudo, pelas obras de infraestrutura e habitacionais decorrentes das ações e programas do Governo.

Apesar da taxa de desemprego no país estar em níveis recordes por conta da pandemia, a construção civil vem remando contra a maré. Mesmo em meio à crise sanitária, esse segmento gerou, entre junho de 2020 e maio de 2021, cerca de 318 mil novas vagas de emprego. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), apresentado pela Secretaria de Trabalho da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, houve um crescimento de cerca de 15% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Entretanto, o setor encontra dificuldades para qualificar-se em todos os níveis (em especial, o superior) e, consequentemente, reter trabalhadores. Hoje não só a construção civil, mas todos os segmentos industriais disputam os profissionais qualificados e, muitas vezes, independentemente da especialidade de formação de cada um deles.

As causas da carência de profissionais capacitados na área são debatidas e estão associadas ao número insuficiente de vagas, por exemplo, nos cursos de engenharia – desestimulados por quase duas décadas de estagnação do mercado ou pouco crescimento da economia, o que reduziu a demanda por esses profissionais –, e aos altos índices de evasão nas faculdades.

Como destaca em suas publicações o colunista do jornal O Estado de São Paulo, Marco Aurélio Nogueira, professor titular de Teoria Política da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (UNESP) e ex-diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais desta Universidade, “a riqueza de um país, o desenvolvimento institucional e o sucesso das organizações passam pela qualidade do trabalho e dependem, entre inúmeros fatores, do treinamento e da formação profissional das pessoas”. 

Governos e Institutos de Ensino Superior (IES) têm somado forças para reverter esse quadro, promovendo a expansão das vagas e de cursos de engenharia, de forma a aumentar o número de profissionais no mercado. Porém, é uma tarefa que demanda altos investimentos e tempo, já que os cursos têm média de cinco anos. 

Soma-se à falta de mão de obra na construção, a presença de profissionais com uma formação deficitária, o que se reflete na qualidade do planejamento, na gestão e na execução dos empreendimentos, o que leva o País a perder expressivos recursos devido a falhas de projetos e de execução.  

A formação, qualificação e capacitação de engenheiros são, portanto, desafios que exigem esforços conjuntos de governo, empresas e instituições de ensino, assim como de entidades de classe.

E como ninguém nasce sabendo, o conhecimento precisa ser adquirido e – acima de tudo – constantemente atualizado, porque a dinâmica cada vez mais intensa da vida moderna – guiada pela revolução e inovação tecnológica –, assim o exige, sem deixar de ter em conta que as novidades não conseguirão ser inseridas integralmente e no pouco tempo dos cursos de graduação.

Não basta existirem os cursos profissionalizantes, os de nível técnico e de nível intermediário (tecnólogos) e superior, mesmo que todos apresentem expressivo grau de qualidade, com abrangência e profundidade tecnológica. São necessárias outras atividades para prover informação, conhecimento e capacitação às pessoas técnicas, isto é, atualização profissional que pode agregar novas especialidades e domínios. 

São os casos, por exemplo, dos cursos de pós-graduação, dos cursos extracurriculares e/ou complementares, dos cursos de informação e atualização, entre tantos outros. Cursos de curta duração, focados em ensinar, a um grupo de pessoas, um assunto que não faz parte da base curricular da graduação, e que sejam ministrados por instituições de ensino superior ou empresas especializadas na área, que disponibilizem aulas aprofundadas e/ou intensivas sobre determinado tema, ferramenta ou profissão.

É importante entender que, quando falamos em atualização profissional, estamos nos referindo à busca constante pelo aprendizado por meio de formações que agregam conhecimentos e desenvolvem habilidades fundamentais ao cotidiano de trabalho. 

Esses conhecimentos também são fundamentais para outro aspecto bastante visado pelas empresas: a tomada de decisões de forma ágil e acertada. Superar desafios é algo que fortalece o profissional, pois o prepara para enfrentar condições adversas, comprovando, ainda, a sua capacidade de ultrapassá-las.

Dentro desse contexto, ganham expressivo destaque as entidades setoriais representativas, em especial as técnicas, que, dentro de suas áreas de domínio e conhecimento, elaboram e ofertam atividades de formação e informação, como as que a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) – tendo isso como parte do seu DNA -, promove anualmente desde sua fundação, em 1936, a exemplo de diversas outras reconhecidas e renomadas entidades de classe. 

A entidade percebeu a necessidade de transferir tecnologias e capacitar profissionais por meio de cursos complementares à formação provida pelos IES.

Com a expertise de seu corpo técnico, de seus laboratórios de excelência e de seus programas de desenvolvimento do mercado de cimento, a associação tornou-se referência em cursos de capacitação sobre projeto e execução de sistemas construtivos à base de cimento, bem como sobre produtos e materiais de construção, em que destaca a tecnologia básica do concreto. Tudo isso abarcado por mais de 30 diferentes temas e atividades de capacitação disponibilizadas para milhares de profissionais. 

Por ano, são mais de 5 mil profissionais que participam dos cursos da ABCP, cujas informações são encontradas no portal da entidade (abcp.org.br). 

E, mesmo frente ao isolamento social causado pela pandemia, as atividades virtuais promovidas pelo canal de comunicação ABCPonLINE, criado no ano passado, permitiram a continuidade dessa capacitação com a mesma qualidade das atividades presenciais, ampliando assim o acesso ao conteúdo.

Hoje, com o governo reconhecendo a construção civil como locomotiva do desenvolvimento socioeconômico, nada melhor para os profissionais brasileiros da cadeia produtiva da construção que dispor desses ativos para realizar as próprias capacitações e ampliações de conhecimentos.

A retomada do crescimento da economia exigirá, mais do que nunca, além de capital, mudanças tecnológicas, introdução de novos métodos construtivos e aumento da produtividade. E tudo isso só será alcançado com profissionais capacitados, dado que o diferencial competitivo das empresas se constitui de seu capital humano capacitado, uma vez que é ele a fonte de criação e de inovação.

Com a rapidez que a evolução do conhecimento ocorre, por mais capacitados que sejam os trabalhadores, suas competências podem entrar em processo de obsolescência se não foram constantemente atualizadas.

Qualquer ação que priorize o conhecimento é muito bem aceita. E o conhecimento nunca é demais.

Hugo Rodrigues.JPG

*Hugo da Costa Rodrigues Filho é engenheiro civil com Mestrado na USP em Tecnologia dos Materiais e MBA ESPM em Comunicação & Marketing. Diretor de Comunicação da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e ex-diretor de Publicações e de Marketing do Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON). É membro do Departamento da Indústria da Construção e Mineração (DECONCIC) da FIESP.