Enquanto aguarda regulação e maior segurança jurídica no Brasil, um novo tipo de concreto de altíssima resistência está se desenvolvendo em países como China, Austrália, Alemanha e França, onde foi criado na década de 1990 a partir de uma pesquisa governamental. É o Concreto de Ultra Alto Desempenho, ou Ultra High Performance Concrete em inglês, mais conhecido apenas como UHPC.
Feito com uma mistura especial de cimento, aço e fibras, mas sem agregados graúdos para eliminar espaços vazios na pasta, o UHPC foi usado inicialmente em aplicações militares como o notório tanque Leopard 2A6, produzido pela empresa alemã Krauss-Maffei Wegmann. Isso porque o material é resistente à abrasão e a ambientes agressivos com efeitos químicos, por exemplo, além de garantir estruturas mais leves.
Um dos maiores especialistas em Concreto de Ultra Alto Desempenho é Sri Sritharan, doutor em Engenharia Estrutural na Universidade da Califórnia e professor titular do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Iowa. Ele esteve no Brasil para participar do seminário internacional promovido pela Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (ABCIC) no Concrete Show, o evento da cadeia construtiva, que aconteceu entre os dias 8 e 10 de agosto no São Paulo Expo, na capital paulista.
Ele explicou que o UHPC demorou quase 20 anos para fazer a transição do uso para fins militares até a aplicação em infraestrutura e construção civil por um motivo principal: o alto custo. Segundo o Dr. Sri Sritharan, foi preciso fazer um trabalho de convencimento com empreiteiras e o poder público para mostrar os benefícios a longo prazo.
“Porque alguém iria querer usar o UHPC se ele é tipicamente mais caro? Devido à composição que temos na matriz do produto, ele pode custar de 6 a 10 vezes mais do que o concreto tradicional. E mesmo se somarmos o aço que será utilizado na construção e o volume de material necessário, o UHPC ainda terá custos maiores”, questionou o especialista. “Acontece que o diferencial dessa tecnologia é a sua excelente durabilidade, que permite que a vida útil das estruturas aumente, diminuindo o custo de manutenção. As pontes rodoviárias, por exemplo, que demandam o fechamento de vias e um deslocamento enorme de pessoal quando há reformas, você só precisaria realizar daqui 10 a 15 anos em estruturas feitas de UHPC”, completou.
Aplicações do concreto UHPC no Brasil
De fato, o Concreto de Ultra Alto Desempenho foi usado em alguns dos pontos mais icônicos no Brasil nos últimos anos. Como também é de baixa permeabilidade e alta durabilidade, ele foi priorizado em reformas de instalações litorâneas como o Porto de Santos (SP) e o Porto de Rio Grande (RS), em obras de infraestrutura como a Ponte Ibirapuera (SP) e até mesmo para reforço de monumentos artísticos e prédios culturais, como o Museu Oscar Niemeyer (PR).
Colocando em números, o concreto comum, que continua sendo o mais utilizado no país, oferece uma resistência à compressão de 40,0 MPa (megapascals), enquanto o Concreto de Alto Desempenho pode chegar ao índice máximo de 100,0 MPa. Já o UHPC apresentou resultados de resistência à compressão superiores a 150 MPa. Em testes de laboratório, o material chegou a alcançar 400 MPa, número comparável à resistência do aço estrutural.
Mas segundo o Dr. Sri Sritharan em participação no congresso “Construindo Conhecimento” do Concrete Show, ainda há um abismo entre o que é estudado na academia e o que é colocado em prática pelo mercado da construção. Ele destacou que já existem comissões elaborando normas técnicas para garantir segurança jurídica ao uso do UHPC no Brasil, e que os ganhos financeiros e de sustentabilidade das empresas serão enormes quando isso ocorrer.
“O UHPC é um material totalmente novo que está entre o concreto e o ferro. São os próprios produtores que decidem o quanto de cada elemento será usado na mistura. Nos Estados Unidos, a indústria de pré-moldados já está desenvolvendo suas próprias receitas que sejam mais eficientes para o propósito de determinada construção. Assim, essas fábricas economizam na compra de produtos, porque são donas de seus próprios desenhos, e na mão de obra, já que podem trabalhar com seus próprios especialistas em UHPC”, concluiu o professor de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Iowa.